Caramelos e Malteses

Nos documentos paroquiais do século XIX, referentes  aos concelhos da Moita, Montijo e Palmela, verificou-se que os termos " caramelo " e " maltês " revelam frequentemente um sentido equivalente. Ambos designam o trabalhador rural proveniente das beiras e deslocado temporariamente para a região de Setúbal. Apesar de o vocábulo " maltês " designar um indivíduo sem domicílio ( por vezes também apresenta uma conotação mais negativa, podendo significar vadio ou mentiroso ), conclui-se que os " caramelos " frequentemente chegavam a esta região como trabalhadores temporários, logo sem domicílio certo; posteriormente, muitos acabavam por se estabelecer definitivamente, deixando assim de ser " malteses " ou " caramelos de ir e vir ". Desta forma, os dois termos por vezes confundiam-se, sendo frequentemente utilizados de forma indistinta. Posteriormente, à medida que os " caramelos "se foram integrando na região, assistiu-se a uma diminuição do uso deste dois vocábulos, que no entanto perduraram como apelido.

O " José Maltês " mencionado pelo pároco chama-se Agostinho José ou Agostinho Loureiro, meu 4º avô e era natural da freguesia da Tocha; esta designação de " maltês " não foi transmitida a nenhum dos seus filhos e ocorreu posteriormente à morte do próprio Agostinho José; os dados paroquiais recolhidos levam a concluir que foi " caramelo de ir e vir " ou " maltês  "durante alguns anos, antes de se fixar definitivamente, com a sua família, na Fonte da Vaca- Pinhal Novo.
Neste registo de óbito do meu trisavô José Agostinho, filho de Agostinho José ou Agostinho Loureiro,  este último é novamente qualificado como " maltês "; note-se que o registo anterior é pertence aos documentos paroquiais de Palmela, ao passo que este é do Montijo, logo esta atribuição dificilmente se deve a uma iniciativa isolada do pároco.

Este registo, datado do início do século XX,  talvez corresponda melhor à definição mais generalizada do termo " maltês ": um desconhecido, trabalhador agrícola,  certamente  deslocado da sua terra de origem, provavelmente há pouco tempo, o que explica o facto de ser a sua identificação ser ignorada. Note-se que o indivíduo faleceu em Rio Frio, lugar que recebia muitos trabalhadores temporários, possuindo instalações próprias para os albergar durante as suas estadias.

Este registo da Moita não define o termo " caramelo " ,mas revela a sua origem: freguesia de Mira, diocese de Aveiro, uma das proveniências tradicionais dos " caramelos ". 
Este assento de óbito, também da Moita, não revela a origem ou profissão do indivíduo, apenas refere que é " caramelo " e morador na vila da Moita.
Apesar de não mencionar explicitamente os vocábulos " maltês " ou " caramelo ", este registo da Moita define perfeitamente os dois termos, referindo um " jornaleiro, natural da freguesia de Cadima, bispado de Coimbra, temporariamente ocupado nos serviços agrícolas desta da Moita ". 

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